Atropelei uma velha quando fui comprar erva

 18h em Famalicão. Estou eu a andar na Ford Transit da empresa. Combinei comprar umas gramitas de erva com o dealer mais inconstante da zona que vai de um lado para o outro como se fosse um dos melhores jogadores de Pokemon Go do mundo. Não conheço Famalicão e digo-vos: raio de terra para se conduzir em hora de ponta.

Lá combino com o dealer (Zé Mário) e ele diz-me que tem a erva mais top, mais fixe, mais espectacular mas que tenho que ir ter com ele ao quinto caralho. Dirigo-me, então, para o terceiro caralho, perco-me no quarto caralho e fico sem rede no telemóvel. Raio de terra. Lá descubro onde é o sítio e vejo-o a entrar no carro. O Zé Mário faz uma espécie de sinal com o braço e entra no carro. Começo a seguí-los.

Andamos uns km de carro até que ele para no lado da estrada num caminho já no meio do monte. Eu paro atrás. O condutor sai do carro e vêm em direção a mim com a mão na parte de trás das calças. Cago-me todo. Por amor de deus eu só quero comprar umas gramas de erva e ir para casa fumar, não recries aqui o exterminador implacável.

Gajo: Quem é que tu és? Tens problemas?

Eu: não! só vim atrás porque o Zé fez sinal, pensei que era para vir convosco

Aparentemente o Zé não fez sinal nenhum com a mão (este gajo deve achar que é o Musk do bairro). Digo ao gajo que conheço o Zé Mário, ele aparece, cumprimenta-me e está tudo bem. O condutor fica a olhar para mim como se eu fosse feiticeiro e estivesse prestes a invocar um furacão policial de categoria VI.

O Zé lá me arranja a erva. Faz-me um desconto por se atrasar e pela confusão. O gajo continua a olhar para mim e eu a pensar como é que seria morrer com um tiro no meio do monte numa Ford Transit. Vou-me embora e o telemóvel continua sem rede. Procedo a descobrir sem GPS as terriolas mais estranhas de Famalicão até chegar a um sítio que reconheço.

Chego a uma rotunda no centro da cidade e vejo uma pastelaria. 18h45, tá a bater a larica, vamos comer qualquer coisa. Saio da rotunda para uma saída com má visibilidade. Vou quase a fazer ponto de embraiagem.

Tum.

Tau.

Algo enorme bate no capô do carro do lado direito. Que merda é esta? Um poste que caiu em cima da carrinha? Ligo os 4 piscas e saio para ver a velha mais velha do mundo desmaiada no meio da rua, prestes a desfazer-se em pó. Puta que pariu. NUMA PASSADEIRA. Entre morrer com um tiro numa Ford Transit ou ir dentro por homicídio involuntário de uma velha, sinto o pânico de uma vida. Saio e estão duas pessoas já à beira da senhora.

Ela está completamente K.O. Uma das pessoas que a estava a assistir era um bombeiro, que diz que a viu a cair. Passadeira estava vermelha para os peões. Vem uma toina dizer-me que eu era um burro, que ando por aí a passar peões a ferro e que estava bêbado. Eu estou confuso porque não sei se me falhou algo, um semáforo, um sinal talvez? O bombeiro lá diz à mulher que viu a situação a acontecer e que não foi assim, mas aparentemente ela já tinha chamado a polícia a dizer que um bêbado atropelou alguém no centro.

No meio disto tudo, a velha lá acorda, os bombeiros chegam e a polícia também. E eu começo a pensar no quanto aquela Ford Transit tresanda a erva.

Agora, meus amigos, tenho que vos contar um detalhe muito importante: eu não uso boxers. Acho desconfortável e um dos tomates fica sempre meio entalado fora portanto olhem, ando por aí à marinheiro. O problema com isto é o seguinte: eu não tenho sítio nenhum para colocar a erva. Exceto o sítio proibido: o cu.

Imaginem, então, o que é um gajo que acabou de quase levar um tiro e atropelar uma velha que começa a ser interrogado por dois polícias enquanto tem 10 gramas de erva no cu que está a amarrar religiosamente com toda a força que tem nas nalgas para não cair pelas pernas abaixo.

Estou completamente nervoso, não digo coisa com coisa e os polícias começam a suspeitar. Obrigam-me a fazer teste do balão e pedem a um carro para trazer teste de drogas. Nada. Sorte a minha, um joalheiro de lá ao lado diz que tem as gravações da rua, defende-me e os polícias lá vão ver. A polícia confirma que estou completamente inocente. A velha simplesmente estava parada à beira da passadeira e perdeu o equilíbrio.

Passou-se 1 hora e tal e o processo acaba, a polícia lá recolhe os meus dados e a velha estava bem, embora tivesse ido para o hospital. Entretanto tinha aparecido uma pessoa da família dela e disse que ela tinha problemas de indíces glicémicos, o que explica o porquê dela ter caído. Eu volto para o carro.

No meio disto tudo, deixei a carrinha com as luzes ligadas. A minha paciência esgotou. Simplesmente digo o "que se foda" mais vibrante que já senti: vou mas é fazer uma ganza, ligar à minha irmã e relaxar um bocado. Lá vou eu comprar mortalhas. Tenho 1,40 cêntimos. As mortalhas custam 1,50. Puta que pariu. Decido andar pela rua e vejo um sem-abrigo num cantinho a fumar um cigarro enrolado. Vou ter com ele e pergunto-lhe se tem uma mortalha, até partilhava com ele. Ele lá me dá a mortalha. Começo então a falar com o Diogo, sem-abrigo que diz que foi o militar que matou o Salazar. Ok Diogo, diz lá o que quiseres, não é como se a minha história fosse mais credível.

Rodo-lhe a ganza e ele fuma-a toda, o que para mim foi o pagamento por uma das melhores histórias de ação que já ouvi. Este gajo foi o James Bond anti-ditadura num século passado. O que não bate muito certo porque o Diogo tem 30 e poucos anos e a matemática não matematica.

O charro termina e lá vou à minha vida. O Diogo vem atrás de mim. Pergunto-lhe se ele quer alguma coisa e ele pergunta-me se lhe consigo arranjar um bocadinho de erva. Eu estou naquela, pego no bag, ele agarra no bag e começa a correr. Podia ter ido a correr atrás dele mas, meus amigos, se acabassem de ter uma tarde como a minha e vissem o sprint que o Diogo fez (que mais parecia uma Rosa Mota em crack), simplesmente desistiam. E foi o que fiz.

Lá me liga a minha irmã. "Tou aqui". Vou ter com ela e digo-lhe para me levar para casa por amor de deus.

Ela pergunta-me o que se passou.

Só lhe digo "nunca mas nunca venhas comprar droga a Famalicão"

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